sexta-feira, 19 de março de 2010

quando?

Escute o som do vizinho.
Os sentidos não falham nunca.
Escute o som da casa ao lado.
O jeito que movem os pés.
Como a água da torneira bate no fundo da pia.
O som dos passarinhos vegetativos.
Uma casa tão escura. Com tanta pouca luz.
Esses corredores. Esses labirintos.
O tédio. O mesmo. O comodo. O confortável.
Não se esqueça das aventuras na calçada.
Eu era Deus. Era tudo meu.
Eu preparava. Eu iniciava. Eu enjoava. Eu matava. Ia tomar banho, comer e ver TV.
Pernas cruzadas, um braço esticado, olhos vazios atirando na minha nuca.
No mesmo rosto um sorriso de lado e uma mente ausente.
Eu brincava nos pés da árvore. Na ilha de verde, num mar cinza, frio, duro.
Não lembro de nenhum olhar de fora. Só lembro das coisas que eu tinha na mão.
GRITAVA!
E o eco só se fazia em mim. Era assim que eu queria.
Me perdia na historia...batia sono.
Não sei mais quantas vezes vou na janela.
Evito olhar pro ontem. O que eu posso perder?
Antes o que eu sentia era abstrato e colorido.
Agora eu... não sei...
Máscara pra corar.
Máscara pra olhar.
Máscara pra sorrir.
Até na textura dos cabelos.
Até na cor dos pêlos.
Meu corpo virou uma massa de modelar.
Uma que derrete em qualquer estação do ano.
To cheia de falta.
A única coisa que ficou é o som do vizinho.
Este é sempre o mesmo.

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